Lisboa, 09 out (Lusa) - Uma tentativa de "golpe de estado" contra Xanana Gusmão, em 1984, afirmou a sua posição como líder incontestado da resistência timorense à ocupação indonésia, afastando elementos radicais e dando ao movimento um caráter nacionalista e plural.
O episódio surge descrito em detalhe na biografia do líder histórico timorense da investigadora australiana Sara Ninner, que aponta este acontecimento como uma das principais revelações do livro “Xanana – Uma Biografia Política”, editado pela D. Quixote.
A tentativa de golpe é atribuída ao então chefe do estado maior das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (Falintil), o comandante Kilik, apoiado pelo chefe das Brigadas Vermelhas, Mauk Moruk.
Kilik e Moruk convocaram um encontro, em Hudi Laran, para o qual não convidaram Xanana, apelidado pelos "rebeldes" de "revolucionário traidor" por causa das suas posições em defesa do pluralismo dentro do então Conselho de Resistência Revolucionário Nacional (CRRN).
Na sequência deste episódio, Xanana decidiu fazer "uma remodelação radical" da estrutura de comando e expulsar os rebeldes do comité central, assegurando um controlo "mais firme" da resistência.
"Esta purga de partidários de uma linha dura levada a cabo por Xanana pode ser vista como o início da sua liderança sem oposição em Timor e do desacordo mais prolongado com a Fretilin. [...]Tinha rejeitado as ideologias marxistas e iniciado uma inclusão independente de todos os credos políticos num movimento de resistência nacionalista", refere a biografia.
O livro, posto à venda este mês em Portugal, retrata a vida de Kay Rala Xanana Gusmão desde a infância até à sua atual posição de primeiro-ministro de Timor-Leste.
"A descoberta mais surpreendente foi perceber o quão arduamente teve que lutar para conquistar e manter a liderança", disse Sara Ninner à agência Lusa.
A investigadora da australiana Monash University, que já tinha editado “Resistir é Vencer: a autobiografia de Xanana Gusmão”, entrevistou exaustivamente o líder timorense e mostrou-se impressionada com a "dureza da sua vida" e com o número de familiares, amigos e camaradas que perdeu durante a luta.
"O seu estilo encantador faz-nos esquecer os nervos de aço. A sua capacidade de suportar o sofrimento e continuar, motivando os outros, é extraordinária", considerou a investigadora.
"Enquanto muitos continuam a ver Xanana como um herói da luta de resistência, o livro mostra um ser humano singular que muito frequentemente questionava o seu papel e que cometeu erros", prossegue a autora.
Sara Ninner sublinha que o livro aborda essencialmente a liderança de Xanana entre o início dos anos 80 e 1999, ano da consulta popular de autodeterminação de Timor-Leste, reservando apenas o posfácio para os quase 10 anos de independência do território.
Sobre este período, a investigadora adianta que "nem sempre a sua atuação teve em conta o interesse supremo do país", apontando como exemplo a crise de 2006. Nesse ano, a autora entende que Xanana, então Presidente da República, desautorizou publicamente as chefias militares na questão dos peticionários desertores do exército.
O caso gerou manifestações contra o Governo liderado por Mari Alkatiri, da Fretilin, que acabaram por degenerar numa escalada de violência e numa grave crise política e de segurança que deixou 150 mil deslocados.
"Vejo este livro como parte das primeiras tentativas para escrever a história Timor-Leste, algo muito difícil porque imensas coisas são contestadas. Penso que muitas pessoas irão discordar da minha abordagem e mesmo o próprio Xanana talvez não concorde com as minhas descobertas", adiantou.CFF
Lusa/Fim
l.com
O episódio surge descrito em detalhe na biografia do líder histórico timorense da investigadora australiana Sara Ninner, que aponta este acontecimento como uma das principais revelações do livro “Xanana – Uma Biografia Política”, editado pela D. Quixote.
A tentativa de golpe é atribuída ao então chefe do estado maior das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (Falintil), o comandante Kilik, apoiado pelo chefe das Brigadas Vermelhas, Mauk Moruk.
Kilik e Moruk convocaram um encontro, em Hudi Laran, para o qual não convidaram Xanana, apelidado pelos "rebeldes" de "revolucionário traidor" por causa das suas posições em defesa do pluralismo dentro do então Conselho de Resistência Revolucionário Nacional (CRRN).
Na sequência deste episódio, Xanana decidiu fazer "uma remodelação radical" da estrutura de comando e expulsar os rebeldes do comité central, assegurando um controlo "mais firme" da resistência.
"Esta purga de partidários de uma linha dura levada a cabo por Xanana pode ser vista como o início da sua liderança sem oposição em Timor e do desacordo mais prolongado com a Fretilin. [...]Tinha rejeitado as ideologias marxistas e iniciado uma inclusão independente de todos os credos políticos num movimento de resistência nacionalista", refere a biografia.
O livro, posto à venda este mês em Portugal, retrata a vida de Kay Rala Xanana Gusmão desde a infância até à sua atual posição de primeiro-ministro de Timor-Leste.
"A descoberta mais surpreendente foi perceber o quão arduamente teve que lutar para conquistar e manter a liderança", disse Sara Ninner à agência Lusa.
A investigadora da australiana Monash University, que já tinha editado “Resistir é Vencer: a autobiografia de Xanana Gusmão”, entrevistou exaustivamente o líder timorense e mostrou-se impressionada com a "dureza da sua vida" e com o número de familiares, amigos e camaradas que perdeu durante a luta.
"O seu estilo encantador faz-nos esquecer os nervos de aço. A sua capacidade de suportar o sofrimento e continuar, motivando os outros, é extraordinária", considerou a investigadora.
"Enquanto muitos continuam a ver Xanana como um herói da luta de resistência, o livro mostra um ser humano singular que muito frequentemente questionava o seu papel e que cometeu erros", prossegue a autora.
Sara Ninner sublinha que o livro aborda essencialmente a liderança de Xanana entre o início dos anos 80 e 1999, ano da consulta popular de autodeterminação de Timor-Leste, reservando apenas o posfácio para os quase 10 anos de independência do território.
Sobre este período, a investigadora adianta que "nem sempre a sua atuação teve em conta o interesse supremo do país", apontando como exemplo a crise de 2006. Nesse ano, a autora entende que Xanana, então Presidente da República, desautorizou publicamente as chefias militares na questão dos peticionários desertores do exército.
O caso gerou manifestações contra o Governo liderado por Mari Alkatiri, da Fretilin, que acabaram por degenerar numa escalada de violência e numa grave crise política e de segurança que deixou 150 mil deslocados.
"Vejo este livro como parte das primeiras tentativas para escrever a história Timor-Leste, algo muito difícil porque imensas coisas são contestadas. Penso que muitas pessoas irão discordar da minha abordagem e mesmo o próprio Xanana talvez não concorde com as minhas descobertas", adiantou.CFF
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